segunda-feira, novembro 21, 2005

«Folheemos Amor este livro, como quem toca o pólen e prova o mel e não receia enganos ou cansaços.»

Lá em cima insinua-se a biblioteca.
Linda, cheia de estantes nos olhos espelhados e livros escorrendo pelos cabelos bravios.
Bem no centro, no seu coração, forrado com o ouro das lombadas, existe um recanto que é, ao mesmo tempo, tímido, poderoso e mágico.
O bibliotecário vagueia por ali.
Percorre estantes, retira obras.
Uns são poemas, outros contos, outros desabafos.
Timidamente, como um afago, folheia-as devagar.
Sente um arrepio. Eleva os olhos e coloca-as novamente no seu lugar.
Procura algo.
- Que procuras bibliotecário?
- Um caminho.
- Em que livro?
- Num livro de luz.
- Não são esses todos livros luminosos?
- Todos resplandecem.
- Os que tens nos olhos não te servem?
- Todos me são deliciosos.
- Que procuras então?
- Um livro raro.
- Raro?
- Tão raro que nem sequer sei se existe.
- Está aqui?
- Tem que estar. Sou o bibliotecário. Se esse livro existe tive que o arrumar neste local!...
- Tens a certeza que é este o sítio certo?
- É no coração que se guardam os tesouros.
E afadiga-se o bibliotecário perdido entre colunas de poemas e malas repletas de palavras.
- Que procuras Bibliotecário?
- Um sítio.
- Como se chama?
- Descobri-lo-ei.
- O que guarda?
- Um livro mágico.
- Vê naquela estante!
«Incandescência - Nua a praia debaixo do sol. À noite, lençóis de cetim».
«Lâmpada - Sob a lâmpada olho-te. A cegueira vem depois.»
«Pele - Internei os meus olhos na tua pele. Electrifiquei-te.»
- Que encontraste bibliotecário?
- Uma porta para a alma.
- E agora Bibliotecário?
- Tenho que encontrar a chave mestra.